terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Receita


Nada é eterno.
Suas dores não são.




Não sinta demais, menina. Vá por mim, não se exceda.
A ansiedade te afaga os cabelos apenas para ganhá-la, mas é gatuna, essa danada. Quando você menos esperar, te dirá o que fazer e te tratará como marionete.
Ouça o que eu digo: não sinta demais.
Ame sem pressa, largue mão das expectativas e não deixe que os problemas te angustiem além da conta.
Vai, menina. Seja feliz!

...E quando souber como fazer tudo isso, me mande a receita.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Curta Cotidiano #2

Quem nunca quis ouvir um 'Eu te amo' 
que atire a primeira receita de felicidade.




_Amor, diz que me ama?

_Por quê?

_Preciso ouvir "Eu te amo!"

_Liga pra sua mãe.


quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Ciúme


De tanto ouvir que o segredo é não correr atrás das borboletas, passei a criar minhas próprias lagartas.




Psiu! Não precisa dizer nada. Sei que você vai culpar meu ciúme, dizendo que ele á uma lente de aumento e que vejo tudo em tamanho dobrado; vai fazer aquele velho discurso enquanto arruma as malas e no fim, acariciando meu rosto, dirá que sem meus rompantes nervosos nós teríamos dado certo.

Poupe-nos. Não precisa dizer nada, não.

O ciúme é bobo, mas tem dona... Já você, nunca foi meu.


(Para ler ao som de Não Se Vá, Jane e Herondy.)

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Curta Cotidiano #1


_Amor, tenho te achado tão intolerante ultimamente.

_Deve ser a TPM.

_Você não tem TPM, João!


quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Pensações


Meus sentimentos são itinerantes, 
membros de um teatro mambembe cujo palco não tem refletores.
Às vezes me sinto assim, meio sem sal. Trezentas mil ideias mastigam meu raciocínio e nenhuma delas tem dentes afiados o bastante. Resultado: mordem, marcam e cospem.
Pensar demais dói. Faz a gente esquecer que a tecla dessensibilizar precisa ser acionada de vez em quando e aí fica essa sensação estranha, de que cérebro e coração vivem um casamento sem amor, dividindo o mesmo teto sem que tenham nada em comum.
Admiro aquelas pessoas que optam por um dos lados, escolhem a racionalidade fria ou a intensidade quente e não sentem falta do morno. Já eu, tento sem sucesso apartar as brigas constantes desses dois: cérebro e coração. Os danados vivem se digladiando e fazendo com que eu me equilibre em cima de um muro estreito. Arranhões e escoriações são comuns.
Ah! Se um deles tomasse as rédeas. A culpa se dissiparia e eu poderia descansar em águas rasas. Chega de nadar na intensidade desequilibrada de uma mente hipersensível e hiperpensante.
Há quem herde olhos azuis, cabelos cacheados, uma pinta ou um desvio de coluna. Eu herdei essa coisa que se chama sentir demais... Sinto muito.

Originalmente publicado no Retratos da Alma

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Meu Conto

Meu conto de fadas não tem era uma vez, maçã envenenada, anõezinhos ou castelo. 
Na minha história, o nome da bruxa é ansiedade, o dragão a ser abatido são meus defeitos e o príncipe trocou o cavalo branco por uma tatuagem da Monica Bellucci. 
Não deixei o sapatinho para trás, não dei ouvidos ao espelho, não dormi por cem anos e tampouco mantive uma trança ao estilo Rapunzel. Aqui, no mundo real, aprendi a podar o faz de conta e ganhei uma história de verdade.

Duvido que alguma princesa tenha um felizes para sempre melhor que o meu feliz hoje.
Amém.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

FinAIS




Menti. Para quem só mente, há penas.*
Há pesar de tudo.

Não passo de um ama dor
E a mando errado, foi impossível acertar.

Dez culpas me assolam
Para o seu sossEGO, por muito tempo hão de assolar.

Des-culpe.
Des-canse seu coração maltratando o meu.

O amor tece a queda
Contraditório, amortece também.


*Trecho inspirado numa frase de Flávia Brito

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

[Con]Sequência


Coração tá moído? Chora. Liquidifica a dor.

Não cumpri nossa promessa e isso me arranca lágrimas todos os dias.
Não aguento tanto peso.
É fato: vai desabar. 
Eis aqui, em mim, o maior medo que alguém pode sentir na vida:
Perder um grande amor
e ficar com ela... A culpa.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Final Feliz


O problema do nosso amor é que deixou de ser ficção e virou mera fricção.




Sai daqui. Com passos largos, correndo. Sai e leva toda essa droga de amor pesado que me sufoca feito mordaça.
Quero que você se foda, que se danem todas as suas declarações carinhosas e que meus olhos nunca mais tenham que te encarar.
Eu te amo... Só não gosto mais de você.*


Ele leu o bilhete várias vezes.
Perplexo, suspirou. No fim das contas, já havia passado da conta.
Ela o poupara de dar um fim ao que já estava acabado em seu coração.
Amassou o papel, apanhou o celular...

_Oi, Lú... Quanto tempo! Topa um cinema?


*Frase de Samara Cerqueira

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Promessa


Ele diz que está preparado para que eu lhe dê as costas, que não acredita no meu amor, que não demonstro sentimento genuíno.
Diz que mais cedo ou mais tarde, vou juntar meus trapos e dar o fora... Que não nasci pra ele, que minhas juras são vãs.
E no dia seguinte... Reclama do meu ciúme, grita e maldiz meu nome, aponta o dedo no meu nariz.
Vira a mesa, revira minhas roupas e ideias, espalha aos quatro cantos que o canso, que essa relação não tem futuro e que nosso presente é um fardo cujo ritmo ficou no passado.
Ele não entende nada de amor.
Vou pra igreja, pro terreiro, pro centro e pra gandaia... Vou por o nome dele na boca do sapo, pisar com o bico do sapato, beijar mil bocas até que a dele seja só mais uma.
Hoje prometi me livrar... Nem que pra isso, tenha que largar mão de mim. 

terça-feira, 16 de agosto de 2011

[S]now




Não, eu não sei a hora de parar. Ou talvez saiba e apenas não consiga. 
Parar  representa ponto final e sempre fui adepta das reticências.
Não que isso justifique. Embora não pareça, tenho ideia do quanto posso ser chata.
É que tento consertar - para não usar o tal ponto final - e tentando consertar, as coisas viram uma bola de neve. No começo acho que posso empurrá-la, mas em algum momento perco o controle e ela me engole.
Por causa das minhas reticências e da tal bola de neve, peço desculpas.
Eu quero que a bola de neve pare e a gente continue.
Quero um sol espetacular derretendo o gelo entre nós. Quem sabe assim eu possa sair de dentro desse boneco de neve e você me agasalhe com um abraço quentinho.
Sabe, não sei ficar magoada com as pessoas que amo. Quero que elas se desculpem imediatamente porque carregar mágoa por pessoas queridas me fere.
E eu vim aqui desarmada e boba confessar isso... Preciso que você se desculpe para parar de doer.
Já tem tanta coisa aqui dentro, acomodar a mágoa implica mudar os móveis de lugar. Demorei tanto para deixar a sala arrumada. Não quero mudá-los. Tire-a daqui, por favor.
Estou tão acostumada a me culpar que não sei como agir quando a culpa é sua.
Um sol... Preciso urgentemente de um sol que derreta a tal bola de neve.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Ela Contra o Tempo

Ele convidou para uma café. Ela aceitou.
Ele quis estender. Ela concordou.
Ele pediu um beijo. Ela deu.
Ele propôs romance. Ela abraçou.
Ele mostrou paixão. Ela vingou.

Tempo. Tempo. Tempo.
                        Tem pó.

Ele impôs condições. Ela acatou.
Ele gritou. Ela calou.
Ele magoou. Ela sarou.
Ele escolheu. Ela consentiu.
Ele mandou. Ela obedeceu.

Tempo. Tempo. Tempo.
                        Tem pó.

Ela espirrou. Espiou. Desesperou.
Ela não era mais ela.
Mas voltou para si... O deixou.
Final feliz. Para ela.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Bendito Fruto


E todos os flertes ficaram verdes
quando o nosso amor amadureceu.


Amadureceu
mas não caiu do galho.
                                      Porque o que é do homem
                                      meu bem,
                                      o bicho não come.

Amadureceu
e endureceu.
                                      Cadê a ternura?
                                      Ter nura. Não ter nura.
                                      Que diabos é essa nura, que tanta falta nos faz?

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Almoço

Uma das coisas que aprendi a contragosto é que ego estilhaçado dói mais que coração ferido.
Ser subestimado por alguém que a gente ama é um combo amargo, sem bebida que ajude a engolir o banquete indigesto.
O natural seria virar a mesa, cerrar os dentes e recusar a comida insossa, não é? Não. Porque na caixinha de Mc Lanche Infeliz, vem um brinquedinho chamado amor.
Quando a crítica destrutiva vem de alguém que não representa porra nenhuma nada, é simples: a gente se diz saciado e recusa a refeição; mas quando isso parte de alguém que se admira e quer bem, é como se o prato principal fosse jiló, sem possibilidade de recusa.
'Vai, engole tudinho... Raspa o prato e lambe os dedos, benzinho.'
O amor nem sempre é doce.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Mantra

O fim não anuncia chegada... A gente não sabe se ele vai passar para o café da tarde, se vai aparecer no churrasco do fim de semana ou se já esteve aqui no almoço e nós é que não nos demos conta.

A gente nunca sabe.

Por isso, se você tiver essa chance, deite sobre o peito de quem você ama e ouça-o recitar um dos poucos mantras de amor sincero: as batidas do coração.

Ninguém pode prometer ficar para sempre... Além da morte, a vida é assombrada por uma série de fantasmas... Como o fim, esse monstrinho de dedos leves e pés treinados que não anuncia quando é que vai aparecer.

De olhos fechados, ouça o coração de quem você ama... É a única certeza possível. E por ora, é tudo o que você precisa saber.

domingo, 5 de junho de 2011

[C]oração



Preciso rezar mas não tem santo. O altar vazio torna minhas orações vagas. Ecoa um amém que teimo em confundir com amem.
Estou de joelhos pra ninguém, por uma fé que Nossa Senhora alguma há de entender.
Não sei a diferença entre terço e rosário, mas toma uma rosa e vê nos meus olhos: eu creio. Mesmo em crise, eu ainda creio.
Que o amor rogue por nós. Que esse altar vazio me valha.
Amo... Amém.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Juntos




O fuso horário os separa
O preço da ligação internacional
E o mar
Maldito Oceano Atlântico!

O sono os separa
As obrigações dele lá
E as dela cá
Maldito trabalho!

A realidade os separa
As culturas distintas
E as oportunidades
Maldita disparidade!

O presente os separa
As circunstâncias
E os continentes
Maldita distância!

Só a vontade os une
O compromisso aceito
E os planos em comum
Bendito amor!



"Romeu pegaria o primeiro avião com destino a felicidade.
Julieta o receberia dizendo 'Pra mim é você.'
E tocaria aquela música antiga, do Leandro e Leonardo.
Mas essa já é outra história."

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Simples

Sentada no parque, pensando em nada. Tem algo mais difícil que pensar em nada?
Pela manhã fez frio só para que as pessoas saíssem agasalhadas e mais tarde (agora) o sol pudesse rir da cara delas.
O parque não é bonito. A grama pede para ser aparada e as plantas não dão flor. O parquinho é velho, o campo é de terra batida e falta sombra. No entanto, tem crianças rindo e imagino que o som seja igual ao das crianças que passeiam no Central Park.
Depois de um tempo pensando em nada, que às vezes pode ser tudo, fiquei observando um casal de velhos.
Ela de coque, com alguma dificuldade para andar. Ele grisalho, trajando bermuda. Que engraçado pode ser um velhinho de bermuda.
Embora ele não demonstre nenhum cansaço, acompanha o ritmo dela, sempre de mãos dadas.
Depois de uma volta e meia em torno do campo, sentam-se num banco (esse, com sombra). Ela ajeita o ralo cabelo dele, que murmura alguma coisa como fazem os meninos quando pedimos que se alinhem. Mesmo sentados, ficam de mãos dadas, observando o parque sem flores, em silêncio.
Imagino que tenham filhos, netos... Talvez até bisnetos. Imagino que tenham casado na igreja numa época em que isso era importante e que se não o fizeram por amor, acabaram por achá-lo no meio do caminho.
Devem morar perto do parque de campo de terra e quem sabe já o tenham visto florido n'outros tempos.
Não param o moço do sorvete, não comem algodão doce... Apenas olham, de mãos dadas.
Parecem pessoas simples, com muita história para contar.
Devem ter lá suas bodas de ouro em comum.
Ela deve ter tido mais de quatro filhos, que ele provavelmente trabalhou como louco para alimentar.
Imagino que houve uma época em que brigavam demais, as crianças davam trabalho, as finanças não iam bem. Não hoje... Hoje ela caminha com dificuldade, mas eles tem um ao outro e passeiam de mãos dadas. Ele usa bermuda, ela ri e ele comenta que o tênis também não lhe cai bem. Sempre de mãos dadas.
Ou vai ver que se odeiam, mas vão aguentando porque nessa idade, o que se há de fazer?
Prefiro a primeira opção.

terça-feira, 26 de abril de 2011

26

Só não caio em desalento porque comigo tudo acontece muito rápido.

Desgaste. Ando cansada do que é praxe e das velhas novidades. Não dá mais pra reciclar a rotina... A pobrezinha já tem mais remendos que costuras.
Vou distraindo os ouvidos com Yann Tiersen e Cat Power, adiando o Bukowski que você me emprestou e insistindo no trigésimo segundo capítulo de Dom Casmurro, conversando com Machado sobre a obliquidade dos olhos de Capitu e a beleza contida na descrição da rapariga. Quisera eu aqueles olhos de mar, que arrastam para dentro. Mas ela é personagem que se materializa e eu, nasci matéria que se desenha. Nada de olhar de ressaca, que traga... No máximo rio, riacho.
Não vou buscar colo, assim como não corro atrás dos calos. Vejamos qual vem espontaneamente. O problema é a espera, a ansiedade. A ansiedade que desespera.
Alma, rasgue-se, faça-se papel... Mas aguente. Uma página de cada vez.
Amém.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Homicida




É como eu estava dizendo... Desde que ele apareceu e essa felicidade absurda começou a me rondar, não tenho mais paz.

Dei pra cantarolar Vinicius. Logo eu, decorando soneto.

Por isso quero que você o mate.

Faça com jeitinho, para não doer muito. Ele é sensível e... Ah, quer saber? Faço-o sangrar. Devolva todas as dores que ele me fez sentir naquela noite em que prometeu ligar, mas esqueceu. Fiquei plantada ao lado do telefone, planejando um alô desinteressado que não desse pistas da minha ansiedade. Mas o filho da puta não ligou. E fui dormir imaginando se havia sido trocada por uma loira, ou quem sabe uma ruiva. Ele gosta de ruivas.
Se tenho certeza? Claro que tenho certeza. Quem é que consegue conviver com essa pressão constante, essa responsabilidade? Não dá, não dá.
No meio das nossas noites de amor, tenho ímpetos de fulminá-lo com as armas que essa relação me trouxe: minha ansiedade e meu ciúme.

O palhaço brinca comigo, sabe... É, ele ri da minha intensidade.
Ficam os dois rindo da minha cara, ele e a felicidade. Parecem cúmplices. Eles conspiram contra mim. Planejam me entorpecer mais e mais, para depois fugirem juntos.
Como é que você não está entendendo? É óbvio. Ele apareceu do nada, encheu minha rotina de alegria, e ainda quer me convencer de que isso se chama acaso?
Olha, minha vida se baseia em buscar um amor perfeito, uma vida feliz. Ele me entregou tudo isso de bandeja. Por isso quero que ele morra e suma com os medos que trouxe consigo.
Ao mesmo tempo que o amo e sorrio feito boba, padeço de saudade.

É, saudade.
Sinto falta de buscá-lo por aí, de viver uma vida com lacunas. Ele me encheu de certezas, mas não sei lidar com isso.
Esse contentamento arrancou minha pose de comandante. Quem sou eu sem minha convicção?
Para me sentir no comando, vale tudo. Vale até esmagá-lo. Isso mesmo. Vou colocar sobre os ombros dele toda a minha angustiante necessidade de tê-lo, até que ele desista. E aí vou usar aquele vestido preto que adoro, e minha expressão de abandono: ‘Eu estava certa. Você não suportaria qualquer coisa ao meu lado’.
Sim, pode matá-lo. E se conseguir, apague também nossas conversas intermináveis, e aquele sorriso estúpido que eu amo.

Ele merece padecer como padeço sempre que me imagino sem ‘nós’.

Doem todas as dores quando penso que, finda essa felicidade, vou perder o rumo. Então, que ela termine do meu jeito, sem dar a ele chances de me abandonar.

Não queira compreender. Apenas faça... Mate-o!

Por causa dele, já recorri aos livros de autoajuda, já frequentei o MADA*, já fiz cena de ciúme, já enjoei dessa idiota que ele criou dentro de mim. Chega!

Decidi e não volto atrás. Quero vê-lo estatelado, morto no chão da sala, cena do meu livro favorito... Do jeitinho que me enxergo quando minha imaginação masoquista desenha o fim da nossa história.

Cada vez que imploro pra que ele me deixe, é meu coração suplicando pra que ele assine um documento jurando ficar pra sempre.

É minha última palavra.

Coração, mate-o!

quinta-feira, 31 de março de 2011

[S]Agrado

'Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal.'
(Nietzsche)

Os deuses não se preocupam com castigos. Cometem pecados sagrados, se sagram pecadores divinos.

Vamos cantar mantras, achar o nirvana, negar o amor monoteísta.
Sejamos deuses.

Ilumine-se. Profano é julgar.

Dispa-se dos dogmas. Vista-se de mim.




Mais devaneios na Confraria dos Trouxas

segunda-feira, 14 de março de 2011

Muito

Se amo? Amo baixinho, conforme pediria Quintana.

Amo com calma. Primeiro os detalhes, o cerne, o que ele é de verdade e que só olhos transbordando verdade podem ver.

Amo repetitivo, sem novidades nesse amar que não cessa.

Amo assim, aqui entre nós: consciência e coração.
E me basta.


Mais arroubos na Confraria dos Trouxas.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Maria Sem as Outras

Maria caminhava sem rumo, sapato baixo, chutando pedras.

A alma de Maria vagava sem horizonte, em baixa, chutada de um lado para o outro.

‘ Pior que padecer de egoísmo, é sofrer com o mal da doação excessiva.’

Os pensamentos da menina-mulher eram confusos, passando dos planos aos danos sem se concentrar em nada.

‘Olha, Maria, você é burra! Você é absurdamente burra. E não adianta usar palavras difíceis em textos complexos, porque sua burrice é intrínseca.’

Um nome tão simples, um rosto tão comum, uma cabeça tão complicada.

Maria deveria ser Gertrudes. Não, Gertrudes não, Clarice... Tsc. Maria nunca poderia ser Clarice. Os devaneios de Clarice eram resultado de aflições brilhantes, enquanto os de Maria... Eram foscos.

O vestido de renda e os gestos leves escondiam os bichinhos-come-come que a garota levava no peito.

Sim, logo ali, do lado esquerdo, ela tinha um formigueiro, cupins ou sei lá o que. Traças que lhe mordiscavam sem parar e a tornavam a bailarina de coreografias tristes.

Maria não era Clarice. Maria não era feliz. E pasmem: Maria também não era triste.

Aliás, o que mais lhe afligia nessa caminhada rumo a lugar nenhum, era a falta de um sorriso largo – ou de lágrimas quentes.

Ela nunca sentira o gostinho de ser santa ou puta. Era assim... Mais uma. E isso lhe dilacerava o âmago, já tão judiado.

Judiado? Não, ninguém a machucava. Ninguém além dela mesma. Ninguém além da alma caída.

‘Sou uma predadora.’

Maria não tinha um anjo que lhe trouxesse milagres. Muito menos um diabo a quem culpar pelas falhas.

Maria não era Amélia, não era feminista nem submissa, não era menos ou mais. Maria estava ali, no meio do caminho, chutando pedras.

O meio, as pedras, o nada. Maria sem sobrenome sumiu, engolida por... Maria.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

(Menos de) 140 Caracteres

Amor é livro. Sexo é blog. Rapidinha é twitter.

domingo, 30 de janeiro de 2011

...E será?

Sorri. Ata. Desata.
Emburrece. Larga. Reata.
Interessa. Desvenda. Desdenha.
Ignora. Desperta. Encanta.
Dança. Desdança. Canta e saltita.
Cria. Eterniza. Perece.

Morre.

Fica.

É a vida. (Hoje) Não tão bonita quanto descreveu Gonzaguinha.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Resumo desarrumado

['Desata... Não tem nós. Não tem laço.']


Não te encaro.
                        Olha, eu nem te quero...
Arranco sua camisa com os dentes só pra mastigar vontades. É indevorável numa única mordida.
Invento adjetivos. Sinto sono.
                                                 Mas a gente não dorme junto. A gente acorda.
                                                 A gente entra em desacordo.
Tenho um montão de poesia aqui dentro e você é prosa. Prosa. Prosa. Pró. Prozac.
Me deixa... Eu nem te quero.
Eu quero inteiro e você é meio.
                                                    Justifica-se o fim.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Fragmentos




Cacos, estilhaços do passado nos atingindo em câmera lenta.
Cortes, cores, vermelho... Vivo, morto. Morto, vivo. 'Você errou, cai fora da brincadeira!'
Eu jogava com a seriedade de grandes campeonatos, mas no fim das contas era só uma competição de egos.
'Vou contar até três e a gente sai correndo, quem chegar por último paga o pato.' Cheguei antes. Amei antes. Era blefe... Perdi.
Acertaram uma pedra na nossa vidraça e a gente passou a ver tudo duplicado através do vidro trincado. Não havia uma via, agora eram duas... Cada um com a sua, cada um na sua, cada um... Um.
A vingança é um prato que se come frio. Requenta a comida, põe a mesa, eu faço a cama. Come, depois me degusta. Me come e depois me gosta. Cospe e depois... Cadê o antes?
Era vidro e se quebrou. Fosse ouro, venderíamos. Escambo de sentimentos, leilão de sensações. 'Façam suas apostas!'
Quem ri por último ri melhor? Ouço suas gargalhadas ecoando pela casa.
Sem você não rio. Sem você, mar... Água salgada.
Borboletas no meu estômago, minhocas na sua cabeça: jardins incompatíveis.
Quem não tem coração de vidro que atire a primeira pedra. Crash!


Parece desconexo. De fato, nunca fizemos o menor sentido.