sábado, 27 de novembro de 2010

Rivotrizando


Ilustração: Ruy Barros


Aproveito sua ausência pra matar as saudades de mim. Nem me lembrava do quanto posso ser doce, de como é gostoso acarinhar minhas carências e fazer minhas vontades.

Acho até que o destino cansou de me contrariar.

Ok, você sabe que não acredito em destino... Mas se acreditasse, escreveria um bilhetinho agradecendo a trégua dos últimos dias.

‘Senhor Destino, valeu o cessar fogo. Vamos poupar artilharia e promover a paz.’

Não que as coisas estejam em ritmo de final de novela. Ainda tem meia dúzia de personagens me incomodando e alguns arremates que preciso ajustar pra ficar satisfeita com o enredo.

Meu cabelo podia ser mais liso, meus textos mais engajados e você mais receptivo. Mas não tô reclamando, não. Ao contrário, ando flertando com as minhas qualidades e gostando mais de mim.

A ansiedade continua aqui, só que mais comportada. Vira e mexe me cutuca e ameaça birra. Aí dou bronca e ela senta cabisbaixa, com as perninhas balançando no ar.

Hoje de manhã acordei com o passado chutando a porta. Ameacei chorar. Pensei em voltar atrás, jogar pro alto a evolução e a placidez dos últimos dias. Corri pro espelho e ele me confidenciou que sou mais bonita sorrindo. Resolvido: sorri ao invés de berrar e escapei de ouvir ecos dos meus gritos.

Viu? Ainda sei me virar sozinha, embora você me vire do avesso como ninguém. Vai ver é esse o problema: não quero viver do avesso.

Dei carinho, apoio e espaço. Mas você é exageradamente adepto da calma. Corro o risco de receber sementes ao invés de flores.

Quer saber? Me importo, mas não me inflamo. Toma, um sorriso pra você também. Tô muito mais preocupada comigo, em manter os bons ventos que a vida anda soprando.

O que uns chamam de egoísmo, eu chamo de paz.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Sobre anjos e chocolates

'Ela? Suave como a pata de um elefante.
Bem, boeings não são leves, mas voam.'


De vez em quando me pergunto que porra de época é essa, que não me faz feliz nem dá saudade do que já passou.

Quero acordar cedo e degustar o dia, ou ficar na cama e esquecer que é segunda-feira. Só não vale levantar sem vontade, mecanizar a rotina e estocar insatisfação.

Vou quebrar os relógios, fazer uma fogueira com os calendários. Açoitar agendas, mandar prender despertadores.

Redações e relatórios, só a lápis. Por favor, assine as duas vias.

Lembranças são arquivos e tenho descoberto nos meus um amontoado de material dispensável.

O que você quer ser quando crescer? O que você vai ser quando sua vontade crescer e te engolir?

Dei pra rabiscar coisas desconexas. Sintetizar frases, desenhar o indizível.

Sou tanto que não sei descrever e escrevo pouco. Sou pouco e pra descrever, digo tanto.

Romanceio até a lista da feira e do supermercado: arroz e feijão, café com pão, nós e noz.

Simulo paixões, faço de conta, passo da conta.

Passei da fase do ‘uni-duni-tê’, agora tiro par ou ímpar para escolher.

Meu bem, vem ouvir minhas velhas novidades. Afaga meu cabelo, me olha nos olhos e me faz sentir aquele frio na barriga. Isso é possível até em noites de calor.

Sonho com colo enquanto coleciono calos.

Durmo de lado e no meio da noite fico em dúvida: pra que lado é o céu?

Meu anjo da guarda abandonou o posto. Assumiu um estagiário que sonha ser Cupido. Caiu de gaiato na minha história, ficou zonzo com o enredo.

'Arreda daqui, anjinho torto.'

Vou brincar com a sorte, me colocar num pêndulo entre ela e o azar.

Avisem meu signo que acabo de anunciá-lo num leilão, site de vendas, americanas.com.

Enquanto escrevo, nossa música começa a tocar. Nossa? Não, da menininha boba que deletei ontem a noite.

Ei, produção, vamos pensar numa trilha sonora? Essa aí não dá, não!

Quebrei seus óculos para que você não visse meus erros. Tentei apagá-los antes que te saltassem aos olhos. Mas eles foram rabiscados com caneta, grifados, sublinhados e destacados.

Tudo bem, meu bem. Hoje acordei com tanta fé em mim que não preciso dos santos do seu altar.

A rotina não está doce, mas chocolate amargo sempre foi meu favorito. Devorá-la sozinha me parece interessante, agora que fiquei de bem comigo.

O que você quer ser quando você crescer? - Completa.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Classificados Desclassificados

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Sublimando

Estou anistiando meus sentimentos tortos. Aproveitem, usem e abusem.


Não sei jogar xadrez, tampouco conheço as regras do seu jogo.

Troco toda a erudição e frases feitas por diálogos despretensiosos, que não exijam disposição para decifrar incógnitas.

Rabisco frases sem sentido, me pego rimando e desenhando versos bobos.

Se a neblina atrai, vamos tirar a prova, dissipá-la buscando raios de sol.

Vou gastar meus clichês, esgotar rompantes emocionais, desperdiçar ironia e matar as incertezas. Se não dá pra converter em exclamação, dispenso.

Digladio com a ansiedade mas não sei viver sem ela. Seria uma vitória vã... ‘Acabou a guerra. E agora?’

Detesto a contradição, mas ela me adora. É um caso de amor e ódio onde invariavelmente saio rendida.

Meus textos não tem sentido porque os desejos rumam em sentidos opostos.

Tem um elefante branco, uma caixa de lápis de cor e milhares de objetos inúteis aqui dentro. Fico criando associações, buscando coerência e domínio... Não alcanço nada disso e me frustro. Quebro as pontas de todos os lápis.
Vai render meia página. E eu queria um livro inteiro, dez ou doze capítulos de você.


domingo, 24 de outubro de 2010

Ainda Não Passou

Ócio. Com você era cama, sem você vira tédio.
Eu sei que devia evitar... Ignorar as lembranças, a saudade, Nando Reis, Coca Cola. Desisti de fugir quando me dei conta: saio daqui e te encontro logo ali.
Ostracismo não combina com seu nome. Nome duplo, sonoro, gostoso de dizer.
Me pego rindo das suas frases piegas. Choro em seguida, quando me dou conta de que é só minha memória pregando uma peça.
Não é drama. Não é tragédia. Não é romance. É um filme inclassificável e por vezes chego a questionar se o roteiro é baseado em fatos reais... Minha intensidade sofre de megalomania, de repente andou mudando algumas cenas.
Dei pra escrever textos insanos, sem começo, meio e fim. Inspirados no nosso faz de conta que não teve final feliz.
Oscilo entre o papel de mocinha e vilã. Gosto de me imaginar gargalhando diante do espelho, sem dar a mínima pro bobóca do príncipe.
Verifico meu e-mail a cada dez minutos. Pra não dar o braço a torcer, me convenço de que talvez haja algum trabalho por terminar.
Nando Reis continua cantando '... que ainda não passou, mas vai passar...' Mas quando, Nando? Quando?


'E não, não há nenhum remédio
Pra curar essa dor
Que ainda não passou
Mas vai passar!'

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Resposta

Não faz sentido, nunca fez. Nossos signos não combinam, nossos gostos não coincidem, brigamos pelo mesmo lado da cama.
Desde o princípio essa estranheza, esse incômodo, essa angústia de doer o peito. Nunca foi perfeito, sempre foi tudo o que eu queria.
Fatos conspirando contra, problemas (de todos os tamanhos, pra todos os gostos), situações inusitadas que se impunham pra nos afastar e sempre acabavam me jogando nos seus braços.
Não era pra dar certo... Nunca foi. Mas minha teimosia me fez insistir.
Deu certo. Nos instantes em que me senti segura, nas risadas espontâneas, nos carinhos e detalhes. E aí... O horóscopo voltou a conspirar contra. O destino começou a se impor. Os gostos voltaram a pesar... Suas decisões impuseram o fim.
Da história? Não, do parágrafo. E só Deus sabe se vou conseguir escrever outro.
Acho a incerteza muito mais triste que o final.
O amor resistiu... Mas cadê a fé? Era ela quem me movia quando eu brigava contra os nós que não nos deixavam virar laço, e velá-la dói.

Dói tanto que já nem sei dos nossos defeitos. Muito menos das qualidades.
Benzinho, eu cresci... Querer nem sempre é poder.


Que ninguém julgue atitudes ou a falta delas sem pesar o sentimento que as permeia.
Amém.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Da [im]perfeição

A história não tem princípio. Começou antes que eu estivesse atenta para captar o início e seus detalhes.
De repente ele estava ali. Me olhou de cima de um altar e me senti ainda menor aqui embaixo.
Desejei que não visse meus pés descalços, que ignorasse minha aura, que não percebesse minhas falhas.
Intimidada, dei um passo para trás.
Ele tem um discurso tão bem escrito que me faz enrubescer. Me lembra o que eu era antes de cair do meu altar.
Ele é atento e captou meus pecados. Fala deles com uma naturalidade que me fere.
Não caibo mais num altar, e olhar pra ele deixa essa verdade ainda mais gritante.

‘Se eu não tivesse tantos defeitos pra você consertar, você ainda ficaria por aqui, curtindo o marasmo comigo?’

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

28


Bem vindo, dia 28. Saiba de antemão que você será um dia raso com pensamentos profundos.
Hoje é aniversário de uma das pessoas que mais amei na vida. Ironicamente, já não nos sabemos uma na vida da outra.
Não, não falo de um [quase] amor que não vingou. Dizem que ‘a gente cura um amor frustrado buscando outro amor’, e crendo ou não nesse clichê, ele é disseminado por aí, repetido cada vez que um coração partido precisa de conforto.
No meu caso, nem com frases de efeito posso contar, já que o âmago dessa história é uma amizade.
Quem está aniversariando é uma amiga (já que ex amiga não existe, na minha concepção). Nos tratávamos por apelidos que já não cabem... Embora não tenham perdido a validade, perderam muito do sentido.
Mil vezes lembranças inteiras do que um presente despedaçado.
Também não posso me lamentar. Rupturas raramente tem um único culpado, embora nosso umbigo sempre teime em varrer a culpa pros lados de lá.
Simplesmente não pude esquecê-la... Não hoje.
Dezembro passado, passei mais de uma semana enfiada numa UTI e nos piores momentos tudo que recordo, além de uma sede descomunal, é de conversar com essa amiga... Tê-la ao lado da cama acarinhando minha testa e tentando me fazer esquecer das dores e tubos.
Por que estou contando isso? Porque ela nunca foi me visitar. Restam duas explicações: um devaneio fortalecido pela medicação ou laços muito fortes.
Como boa sonhadora, escolhi crer na segunda opção.
Pudesse, ligaria pra ela e falaria do quanto me fazem falta nossas conversas. Daria os parabéns cobrando uma comemoração inesquecível e dizendo ‘até amanhã.’ Mas não posso.
O orgulho não me trava, mas as circunstâncias, essas sim.
A gente trata a vida como algo extremamente maleável e vai deixando certas coisas pra depois, e quando se dá conta... O depois já passou.
Nós passamos uma na vida da outra (se é que amizade passa). Fomos nos acostumando a não compartilhar as novidades, a não contar os planos, a esquecer... E o que éramos ficou guardado... Docemente embalado pelo passado.

E é por essas e outras, dia 28, que você é especial.

'A amizade é um amor que nunca morre.'
Mário Quintana

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Curtas Cotidianos

Pequenas porções de [quase] romance.


Vida de casal: 'Amor, diz que me ama?' - 'Por quê?' - 'Preciso ouvir um EU TE AMO.' - 'Liga pra sua mãe.' 

Fugaz: 'Flertaram num bar. Desde então ele pensava nos olhos dela. Na internet, decepção: o nick era uma frase do Paulo Coelho.'

Ele disse 'eu te amo' em inglês. Ela respondeu mecanicamente um 'eu também' em espanhol. Há tempos não falavam a mesma língua.

Adicto - Quando a mulher o obrigou a escolher entre ela e a bebida, não teve dúvidas e abandonou o vício: a relação era uma droga.

Olho por olho - Para magoá-lo, ela escolheu cada palavra: 'Troquei você por outro homem.' Só não esperava a resposta: 'Eu também.'

Estranhos: 'Você é diferente. Nunca conheci uma mulher assim.' - 'Culta e segura?' - 'Não, com esse sotaque. De onde você é mesmo?'


[Mais doses no Twitter]

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

[Ins]Piração

'Saudade é um pouco como fome [...]'
Clarice Lispector



Dá desespero ver os dias escorrendo pelo ralo, os minutos escapando pelo ar e tudo que era deixando de ser.

Dá vontade de agarrar uma época pelo pescoço e pedir pra ela ficar mais um pouco.

'Calma, isso é só o tempo passando.' - Contemporiza minha consciência. - 'Nada além disso, por favor vamos manter a calma.'

Dá vontade de ficar com a gente pra sempre, mas a gente escapa de si diariamente.

A gente pisca e já não é o mesmo, sorri e muda de pensamento, chora e muda de opinião. A verdade é que a gente se abandona a todo momento e só um distanciamento interpretativo é capaz de permitir conclusões tão óbvias: ando morta de saudades de mim.



Texto dedicado a todas as mudanças da vida, inclusive as mais imperceptíveis e importantes: aquelas que se passam dentro da gente.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Nós sem laço

Fui acumulando palavras aqui dentro e elas acabaram assim, embaralhadas. Falta paciência para desfazer os nós. Juntei tudo e coloquei num cantinho, embaixo do tapete.
Todos os dias minha consciência me dá um puxão de orelhas. 'Menina, quando é que você vai tirar a poeira e varrer o passado pra fora?'.
Não tenho resposta. Abaixo a cabeça, disfarço e saio de fininho.
A gente até pode jantar comida requentada, mas nunca se acostuma com novidades de ontem.
Mas não é sobre o marasmo que quero falar. Hoje não. Esses comentários são só minha imaginação desviando do assunto.
Hoje abri os olhos e a rotina já estava a postos... Banho, cabelo e maquiagem. Trânsito, trabalho e etc. Acordei um pouco mais tarde no mundo virtual. Estava com preguiça pra tweets e tudo mais. Mas foi lá, no mundinho-quase-de-faz-de-conta que me lembrei dele, a agenda virtual registrando seu aniversário.
Pensei em mandar um scrap. Oscilei entre um telefonema ou um recado via twitter. A verdade é que ele não merece nada disso. Optei pelo mais óbvio quando se trata da garota TPM aqui: pensar, pensar e pensar... Nele, em mim, no faz de conta que criei e que no fim, rendeu menos páginas que as histórias da carochinha.
A gente se esbarrou por acaso mas me encantei de caso pensado. E no fim, não passou de um caso mal resolvido.
Chato. No fundo, me interessei pelo cara que fui inventando (imaginação filha da puta). Ele, mais maduro e bem menos criativo, me desvendou em dois tempos e sem me dar tempo, pulou fora.
Opa! Eu e minha falta de foco... Esse não é um texto sobre dor de cotovelo. Tsc tsc tsc.
Esse emaranhado de palavras é pra tentar desatar os nós que ficaram. Já tenho laços demais pra manter o que não convém.
Me dei conta de que pouco sei a respeito desse tal cara, mesmo que em algum momento eu pensasse saber tudo. Que vergonha da minha mania de achar... Vivo achando e no fim, não tenho certeza de nada.
Ãh? Ah! Ok, foco...
Eu espero que ele seja ao menos um pouquinho do que vi. E que as músicas e mensagens que trocamos em algum ponto virem uma verdade pra nós... Mesmo com outros pares.
De nós só ficaram os nós. Mais cedo ou mais tarde, a gente desata.


Esse texto bagunçado que fala tanto sem dizer nada é só um beijo carinhoso.
Feliz Aniversário... pra ele.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O Varal

'Do quintal da minha casa, nem dá pra ver o seu. Mas imagino que lá no fundo, num cantinho, também tenha um varal. O seu varal.'



(Texto de Maíra Viana)

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Lapso



Aqui, bandeiras brancas hasteadas
No horizonte, uma réplica do Cavalo de Tróia
Mais uma rodada de elixir da juventude
E se me chamarem - não estou, não quero, não posso

Vou construir jardins suspensos
ensaiar pra ser trovador medieval
Sem julgamento sem vírgula ponto reticências
Tudo pode. Tudo posso. Sem inquisição

Faz um brinde e se sente do tamanho da paz
Não existe paz no Oriente Médio
nem ali na esquina
nem em mim - ‘tim tim!’
Brindemos nossos lapsos.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Futebol comentado por quem não entende nada de futebol


A Copa do Mundo começou e dá-lhe carnaval fora de época. Bóra sair mais cedo, entrar mais tarde, pintar o sete, a rua e a cara. Desenterra as roupas verde-grama e amarelo-ouro, corre pra seção de esportes do jornal e faz mandinga pro Messi quebrar a perna e o Maradona quebrar a cara.

É óbvio que com uma introdução dessas, não entendo patavinas de futebol. Ok, sei que são onze de cada lado e tenho uma ligeira noção do que é um escanteio. Reconheço o Kaká (óhhhn), o Robinho e até o Lúcio. E ao contrário da maioria, vou com a cara do Dunga e até dos modelitos dele. Achei um arraso aquele casaco Herchcovitch que ele usou no jogo contra a Coréia do... Ah, um time asiático.

Ou seja: sei o básico pra portar uma vuvuzela.

Confesso que não sou uma entusiasta. Me recuso a chorar por futebol. No máximo fico comovida, o que é muito mais coisa de mulherzinha do que de torcedora.

Diante disso, por que escrever sobre Copa do Mundo, caspita? Tá aí, não sei. Mas é um evento com tantos desdobramentos, que acaba sendo inevitável. Futebol: em tempos de Copa, gostando ou não, você vai ter que engolir!

O mais engraçado é que sobra repercussão pra assuntos ‘além campo’... E como sobra!

Não vou enumerar aqui esses assuntos – assista um dos quinhentos noticiários diários que você se intera – mas, na minha humilde opinião, falta um pouquinho de bom senso de tudo que é lado.

Jabulani vira vilã, vuvuzela vira objeto de tortura, mídia vira carrasco, emissora de TV vira vítima e treinador vira ditador.

Na verdade, não é nada disso... E olha que tenho mania de exagero, hein.

De vez em quando vale a pena simplificar: é só uma bola, é só a torcida, é só uma notícia, é só um canal, é só um técnico.

Talvez pra quem está em campo, a emoção seja outra. Talvez você seja um torcedor um pouquinho mais empolgado e me ache uma tola por desdenhar de uma Copa. Na real, nem tô desdenhando...

Outro dia li uma crônica do Jabor e achei o máximo a maneira emocionante como ele falou da conquista de um título desses.

Mas vou dizer: pelo menos pra quem torce no ritmo ‘Maria vai com as outras’, como eu, as discussões já estão superando o futebol. E isso não tem a menor graça.

Ou param com isso ou vou torcer pros hermanos argentinos, só porque me disseram que o Maradona é a cara da Mafalda do Quino, e adoro a Mafalda!

quarta-feira, 16 de junho de 2010

[Do meu] Interior

Abre os olhos e nada vê
então fecha e imagina

Cria o palco, põe mais pra cá
monta o cenário, muda de cor

Tem frases rabiscadas na parede
uma bailarina miudinha, miudinha
projetor antigo passando imagens conhecidas

Tem pé de fruta chamuscado de pontinhos laranjas
a fonte colorida da velha rodoviária
um monte de gostos, e risadas
e o presépio na igreja
e a igreja na praça

O cheiro, o som, a música da saudade

Abre os olhos
uma bailarina miudinha, miudinha
rodopia na ponta dos pés

A saudade dói

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Pequena biografia não autorizada

Deixa eu brincar de ser feliz. Deixa eu pintar o meu nariz.
(Los Hermanos)


Desembarcou nesse mundo numa noite de lua cheia. De outro jeito não podia ser. Era inverno mas o vento soprava quente, e a mãe quase não sentira dor.
Chegou como todo mundo, entregue à própria sorte e agarrada ao que pudesse tornar a existência menos vã: Deus, santos, amores (verdadeiros ou não).
Aprendeu desde cedo que a vida é escolha, que não existe escolha sem renúncia, que cada renúncia é uma lacuna, e que por tudo isso a única certeza é a ausência.
Descobriu nas palavras seu consolo e seu martírio. Falava demais... De si, de seus medos, da alegria e das frustrações. E quem quer saber? Bastam os enigmas que correm no interior de cada um.
Mas as palavras também eram o abraço confortante das horas difíceis: ler a fazia encontrar outras almas sozinhas. E se todos estão sós, estão unidos pela solidão.
Escrever libertava, e viu que isso era bom.
Levou uns tombos a medida que foi crescendo. Alguns machucaram os joelhos, outros o coração.
Descontente, entendeu que amadurecer é aceitar.
Procurou respostas e terminou multiplicando as perguntas.
Se doou demais sem retorno, e outras vezes recebeu muito sem se doar.
As brigas ganhas se perdiam pelo caminho, as perdidas eram recordações constantes.
Algumas noites passou chorando feito criança sem colo. Algumas, passou brincando e sorrindo. O certo é que na grande maioria, sonhou e rezou pra evitar as perdas, porque a vida... Ah! Ela é tão maior que ganhar ou perder.
Inventou amores procurando O amor. Executou trabalhos medíocres buscando O trabalho. Amargou tristezas pra achar a felicidade perpétua.
E se você espera saber que ela viveu "feliz para sempre", sinto muito. Ela continua padecendo desse mau tão bom que é viver.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Simplesmente complicada


Sem prévio aviso. Foi assim que meu mundinho amargo e dolorido tornou-se agradável, como um chá quente de boldo depois da ressaca.
Aconteceu uma limpeza imaginária nas minhas entranhas, e repentinamente fui salva daquela sensação de ânsia tão esquisita que insistia em me visitar.
Puft! E como num milagre, um fim de semana calmo e solitário faz as ideias clarearem e (quase) tudo ficar bem, como numa novela de cenas afinadas e bem escritas.
Ufa! Já passava da hora de fazer as pazes comigo.
Vivo brigando com minha ansiedade, me degladiando com minha imaginação... Mas no fim acabo me entendendo. 
A gente briga com nossas caraminholas, mas no fundo a gente se ama. Um amor sem explicação.
Tô exausta das tentativas de me decifrar e nunca achar uma saída. Cansei das minhas neuras esdruxúlas e incoerentes. Cansei até de sonhar acordada, mesmo achando poético ser como sou. Cansei, mas não desisti. No fundo, não trocaria minha cabecinha perturabada por nenhuma sã.
Sei lá se quero você pra sempre, só por uma noite ou se quero que todo esse romance blasé se dane. Não consigo me decidir nem sobre a cor do meu vestido, então não venha me cobrar definição.
Garçom, desce mais um chá de boldo imaginário pra curar de vez minhas neuras de estimação!

Flah fazendo as pazes com as próprias loucuras.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Tem fim?

"Um dia olhou pela janela, imaginou como seria o seu vôo até o chão
Mas quando pensou na sujeira que ela causaria...
desistiu, foi ver televisão
Tinha que engravidar, criar, envelhecer, morrer como todos esperavam
Tinha que renunciar, agradar, obedecer, vencer como todos desejavam..."
(Longe Aqui, Jay Vaquer)


 
Ultimamente a vida não é mais a mesma: virou filme velho na tv. Vai passando diante dos olhos e eu pareço mero espectador.

Interagir anda complicado. Eu tô aqui sem querer estar, e ao mesmo tempo qualquer lugar é lugar quando não há pra onde ir.

Ando cansada dos fatos acontecidos e também dos sonhados. Principalmente, ando cansada desses textos com ar de lamento.

As brigas perdidas tem sido dissecadas e remoídas insistentemente pelo meu cérebro maluco. Ando entregue.

Tão entregue que esse texto não tem fim. Tô sem forças pra brigar com a falta de criatividade. Lá vou eu de novo, assistir filmes velhos na tv...


segunda-feira, 10 de maio de 2010

Delírio




Primeiro a volúpia. Ele surgiu como tinta rubra no papel branco.

Vem cá, me beija como se fossemos nos atirar do alto de uma ponte.

Então surgiu a afeição... Ele se abriu como livro do Machado, e de complicado passou à interessante.

Volta. Me abraça como se o mundo fosse uma ponte.

Aí nasceu a paixão. Ele começou manso feito garoa de domingo, e de repente tudo era tempestade.

Vem, me aperta como se eu estivesse caindo...

E finalmente, restou o descaso. Virou filme reprisado mil vezes.

Como assim? Por que você não vem mais? E os beijos, abraços e carinhos? Cadê a ponte e o mundo que desenhei em vermelho? Cadê você?

Foi tudo muito rápido... E agora passo os dias sentada no meio do nada, esperando alguém que me salve e construa um caminho de volta.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Breve diálogo de um quase adeus



_Peraí, como assim, eu atrapalho? Desde quando acabaram as cores no meu arco-íris?
_Não vou explicar nada. Nem sobre você, nem sobre mim, nem sobre o branco e preto.
_Tá. Não me importo em falar sobre nós dois... Mas todas aquelas cores que você me prometeu??? (Ela melancólica).
_Acabaram. Desbotou e você nem se deu conta, boba! Primeiro ficou tudo cinza... Depois veio o branco e preto mesmo. (Ele nem aí).
_Mas ainda te vejo brilhando... Tem um vermelhinho ali, no cantinho esquerdo... Acho que tem até um pouco de azul nas suas mãos. (Ela com esperanças).
_Já disse que não quero conversar... Pô! Você faz tudo errado... Sempre querendo estar feliz, mania besta de querer ser feliz! Para de amar desse jeito chato... Para de querer colorir tudo!
_Mas eu não... (Ela disfarçando o choro).
_Chega! Ou a conversa acaba, ou acaba nossa história.

Foi aí que ela calou tudo: o choro contido, a esperança teimosa, o amor insistente e o último lápis de cor que trazia na mão.

domingo, 25 de abril de 2010

Novidade fresquinha de uma Mariazinha-Julieta

Depois de vários e vários tweets sobre Romeu e Julieta, motivada por um domingo entediante tive um espasmo de empolgação e, em dupla com o Pedro, criei o Papo de Romeu e Julieta.

A ideia é falar sobre o que rola antes do 'felizes para sempre' e... Ah, só passando lá pra conferir.

http://www.papoderomeuejulieta.blogspot.com/

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Nós2



Um dia sem notícias suas. Pois é, 24 horas de preocupação, caraminholas, falta de apetite, ausência de sono.

Aí fico sabendo o que minha intuição já dizia: você voltou a passar mal, está no hospital, internado... Só. Nenhuma outra informação pra aplacar meu desconforto, pra amenizar as dores do meu coração. O pobrezinho está sendo esmagado aqui dentro, e mesmo se esforçando pra ganhar espaço e respirar sossegado, é só aperto, aperto, aperto.

Ligar não adianta. Chorar não adianta. Dormir não adianta (até porque, tudo que consigo são cochilos interrompidos de tempos em tempos pela sua lembrança).

Nada grita mais alto que uma ausência não consentida.

Desisto de te afastar do pensamento... Me rendo e vou te procurar. Quem sabe assim, enjôo de pensar em você e consigo uma folga pra organizar as ideias...

Cá estou, lendo seus e-mail's, olhando suas fotos, rindo sozinha das nossas conversas intermináveis.

Eu quase posso ouvir seu sotaque gostoso, que deixa nossos diálogos ritmados. Eu quase chego a gostar dos apelidos bobos que você me deu. Eu quase sinto você aqui... Quase.

Falta você respondendo meus sorrisos com os seus. Falta seu jeitinho gostoso, quase boêmio, me deixando sem graça.

Falta. E a falta ecoa.

Mas esse não é um texto de despedida. Ah, tsc tsc. De jeito nenhum! Ele não vai terminar melancólico, não.

Esse texto é pra te cobrar por essas 24 horas de angústia e nó na garganta. Um nó que me ata os olhos e desata os medos.

Esse texto é pra que você saia logo da sua solidão e venha detonar com a minha... Já te disse mil vezes que você é a intensidade que afoga a minha intensidade, não ouse me desafogar!

Exijo você criticando minha instabilidade. Exijo sua voz me chamando. Exijo você dizendo 'Flavinha, eu gosto'. Exijo que você cumpra todos os sonhos que sonhei, porque é a sua graça que os alimenta.

Não sei ficar assim... sem você. E tenho ímpetos de te dar uns tapas cada vez que imagino sua resposta: 'a gente se acostuma com tudo'.

Eu te quero bem. Anda, fica bem... Pra ouvir minhas broncas e pra me provar que tudo o que sinto não é loucura.

Eu amo você. E odeio essas últimas 24 horas.

 
'Não tem como imaginar a minha vida sem você, o meu dia sem te ver (...)
A sua companhia é melhor que um dia de sol.'

Tchai, Um Dia de Sol

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Domingo particular



Tenho em mim uma agonia insidiosa e malandra. Quando me pega distraída, fica me soprando aos ouvidos frases que incitam pressa. ‘Vai, Flávia. Liga pra ele outra vez’; ‘Anda, pergunta pra chefe se o trabalho ficou bom’; ‘Briga com seus amigos por não terem te procurado no fim de semana’...

Diante dessa agonia libidinosamente nociva, me perco feito criança em labirinto. Eu ligo, cobro, corro, choro, brigo. Tudo antes da segunda página. Acaba que as outras pessoas mal desenharam o primeiro parágrafo e eu já terminei o texto.

Intensidade é pouco. Vou engolindo as entrelinhas, os arremates floreados, as frases lustradas.

Meus amores são rascunhos escritos em papel de fazer origami. Começam dizendo como foi bom conhecê-lo, e terminam na dor de cotovelo de um final mal resolvido.

Pois é... Tudo culpa dessa agonia penosa. Ela tem desejos alvoroçados, e uma pressa enorme de ser feliz...

Fica recitando versinhos e me cobrando amar. Cantarola músicas doces e me pergunta quando é que a felicidade vem.

Eu não sei. Olha aqui, sua agonia filha da puta, eu não sei!

E já cansei de procurar debaixo de cada pedra, em cada fresta, em todos os vãos. Eu não procuro mais!

E aí encaro a agonia, abro bem os olhos e digo com todas as letras: ‘Agora quero paz. A felicidade que me procure quando estiver pronta pra mim!’.

Vá eu querer entender a cabeça alheia (só agora começo a entender a minha, aos trancos e barrancos).

A velha história das borboletas de Quintana é tão real quanto a inconstância que nos cerca, mesmo que ninguém admita.

Não vou prometer não ligar. Não vou jurar que ‘já foi’, nem esnobar, nem fingir que não me importo. Sou muito mais que isso... Sim! Eu me importo, dane-se.

Hoje vou tentar deixar de lado o tsunami de descontentamento que me segue feito quimera...

Decidi que é domingo. Meu domingo particular... As preocupações vão ficar pra depois, feito vendedor batendo na porta em pleno fim de semana pela manhã... A gente se revira na cama, e simplesmente ignora... Hoje é domingo!

Já li todos os livros da estante, a tv não tem nada que valha minha atenção, e por mais que revire a agenda, ninguém merece um telefonema ou convite pra passeio no parque. Tudo bem, isso é típico dos domingos. Dias assim não são especiais nem são tristes. São preguiçosamente vazios.

A gente vai empurrando os problemas com a barriga... Deixa pra amanhã!

Aliás, já chega de divagar... Hoje é domingo. Vou procurar desenho nas nuvens ou dormir no sofá... Amanhã decido se me curo ou enlouqueço.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Motivos para odiar uma Mariazinha


Mariazinhas... Desde pequena as encontro por aí: aliciantes e astutas. Tem a perversa mania de aparecer na hora errada. Falam com leveza e simpatia, são espertas, às vezes bonitas, e sempre odiosas.
Pois é, admito que sou daquelas pessoas passionais e suscetíves. Tudo me tange. Leonina, ciumenta e passional. Uma junção explosiva.
Não gosto de quase nada. Mas tenho a terrível necessidade de me sentir amada por tudo o que desperta meu querer.
Aí elas aparecem: as Mariazinhas. Muitas se chamam Joana, Natália, Juliana ou sei lá mais o quê... Mas todas são Mariazinhas!
Aquele tipo de garota que compete sem anunciar batalha (as piores!). Ligam no celular dele quando a gente tá discutindo relação ou fazendo as pazes, esbarram "por acaso" e começam papos intermináveis e dos quais não faço nem idéia. Mandam recados carinhosos e dúbios. Me enlouquecem e ainda são vítimas.
É provável que eu também já tenha sido uma Mariazinha na vida de alguma Flávia por aí. Mariazinhas são inimigos disfarçados em pele de pêssego e com olhos brilhantes. Mariazinhas tem voz suave, e pelo menos por um instante, balançam o coração do cara que a gente gosta.
Pois é, a culpa é sempre delas! Afinal, "ele" é só uma peça... Nunca faria por mal... O cara de quem se gosta é sempre o príncipe encantado, mesmo que caia do cavalo branco enquanto cavalga, ou que não tenha um reino.
Ele me ama! Mesmo que olhe pra alguma maldita Mariazinha por aí, ou fale com ela do jeito que eu gostaria que falasse comigo. Ele é perfeito e cheio de imperfeições (mas isso é outra história, talvez com título de "Joãozinho").

terça-feira, 9 de março de 2010

Era uma vez II



Ela ainda é incógnita. Mas agora tudo soa mais brando... A garoa cessando, a névoa dissipada.
Acordou com sensação de parágrafo inicial. Página de redação com tema livre. E nunca foi tão bom escrever sobre o que quiser: lembranças da casa da "vó", o prato predileto, as últimas férias...
Empacotou todas as frustrações, disse adeus e jogou fora. Até o ar sopra mais leve, e ela sorri com devotada esperança.
Hoje nada vai despertar sonhos mortos. A chefe pode reclamar e vai ser incentivo. A turma pode discordar e vai ser construção pra boas ideias. Até "ele" pode ser formal ao telefone... Vai ser educação.
Ela não vai subentender nada. O que não for claro pode deixar lá no fundo, naufragado.
Hoje ela coloca o vestido mais rodado e o salto mais alto. O cabelo vai solto e os olhos brilhantes.
Parágrafo inicial. Tão bom não ter regras pra primeira frase!

terça-feira, 2 de março de 2010

Quando a gente não lembra de esquecer...

Atenção: conteúdo descaradamente açucarado. Não diga que não avisei.



Esse lance de ir com calma não é pra mim. Me atropelo sempre que tento impor limites ao meu querer.
Quando a gente conversa, me apaixono. Quero me apaixonar. E dane-se.
Tô aqui pra entregar o motivo...

Sempre estive disposta a encarar começos, meios e fins, perdoar, começar de novo e terminar de novo, tantas fossem as vezes necessárias... Só pra ver se algum dia isso dava em alguma coisa diferente de dar em nada.
[Quase] Tudo que você desejasse eu faria. Embora não tenha feito.
Você não desejou? Ou simplesmente não fiz?
Na mesma hora que espero que você morra e desapareça, quero que você me beije daquele jeito que ninguém mais consegue.
Nunca vou compreender porque você é tudo o que eu quero, sou o que você quer, mas isso acaba complicando as coisas, ao invés de resolver.
Acho que temos medo de encarar que tudo isso não passa de nada. Coisa da imaginação, pra gente não parecer tão banal, ficar menos vazio, mais inteiro por amar alguém, ser correspondido e não dar certo. Assim a gente se sente parte do todo, afinal, o mundo tá cheio dessas histórias.
Nem sei se vale a pena inistir. Só não vale tirar da vida o que ela mais gosta de se gabar: seus mistérios.
Apenas prometa que não vai mais prometer o que não puder cumprir. O resto dou um jeito de levar sozinha...
Finalmente tô enxergando que sou igual a todo mundo. É chato, mas acontece. Acabou a convicção de que fui predestinada à felicidade irrestrita.
Acho que no dia em que nasci, meu anjo disse: ‘Sorte pra você, menina. Que você seja louca por chocolate e sua pele continue linda, que tenha os amigos mais amorosos do mundo, que sua família seja um verdadeiro comercial de margarina... Mas você não terá sorte no amor, pra não ficar convencida’.
E aí encontrei você...

domingo, 28 de fevereiro de 2010

'No meio do caminho havia uma borboleta'

"...En medio del camino había una piedra...".
A pedra que Drummond deixou no meio do caminho teima em brigar com as borboletas de Quintana.
Hoje não quero poesia. Não a poesia lírica que desenha corações no ar e sininhos tilintando. Rompantes emocionais tem soado tão blasé quanto notícias de folhetim.
Acordei desejando verdades lascivas, fábulas corrosivas, realidade crua e mal temperada.
Hoje, Vinicius só serve se for pra cantarolar Arrastão. Soneto eu não quero.
Escolho os olhos de ressaca, oblíquos e dissimulados de Capitu, aos ímpetos dramáticos de Julieta ("...O Romeo, Romeo! Wherefore art thou Romeo?...")... Tão apaixonada. Tão desesperada. Tão óbvia.
Ando impaciente com a carência alheia.
Ei, solta a minha mão! Não adianta me olhar assim de lado, nem pedir colo, nem recitar versinho rimado. Desliga essa baladadinha romântica e coloca uma do Chico...
Hoje eu não vou te amar. Amanhã a gente conversa.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Da série 'Eu Sei Que Vou Te Amar'

Amizade? Amizade... Amizade!



Nessa fase maluca de crer que 'nada é por acaso', hoje está sendo um dia de coincidências. Telefonema de amigos ausentes, recado de uma amiga que acabei deixando estacionada, junto com um montão de lembranças amargas... E até um e-mail, resultado de uma história que teve começo e meio, e que ainda não achou uma porta de saída pra escrever seu fim.
Tem gente que quando é ferida, só sara ferindo também. 'Vai, espeta meu dedo... E aí, o seu melhorou?'.
O que uns chamam de egoísmo, eu chamo de seguir em frente... Não posso e não vou ficar me desculpando por culpas que já digeri.
Tô tentando entender que até o tempo precisa de tempo. Toda ferida sara, mesmo que deixe cicatrizes.  Tô aqui pra quando você quiser ou precisar. Mas enquanto isso, vou sair, rir, ver amigos... Viver!
Corro o risco de parecer ingrata. Afinal, amizade é um laço que não se desata. Só que isso não significa que vou fazer sempre o que esperam que eu faça. Até porque, nem sei o que é que esperam.
Independente do que aconteça, carrego em mim amores eternos. Simplesmente passei a acreditar que amar não requer presença. O destino prega certas peças, une e afasta, e só é amor se continuar pulsando mesmo diante dessas surpresas.
Nunca substitui ninguém. Apenas me cerquei de pessoas queridas. Elas não ocupam o lugar de quem está ausente. Ocupam o lugar que merecem.
Entendo todas as razões alheias. Ah, como eu entendo... E não preciso que compreendam as minhas. Deixa nossa história ali quietinha, como um livro na estante.


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Palavras e palavras e palavras...

Como é que se começa um blog?

Pensei em frases de efeito, desenhos coloridos ou um texto imenso, desbocado e bem cool. Mas acabei optando pela boa e velha solução de sempre: esquecer os parâmetros e simplificar.

Eis-me aqui, nem tão simples que traga tédio, nem tão abstrata que soe clichê.