terça-feira, 13 de novembro de 2012

Mágoa


Tem a ver com o peito, mas o que dói é o cotovelo.

É cientificamente comprovado, somos 70% água. Exceto você, “o cara”. Aposto que o número é bem menor.

Nos meus devaneios concluí que nem tem água por aí. Água tem a ver com umidade; umidade rima com humildade e nesse caso, seu percentual deve beirar 0%.

Não é nariz empinado ou mero ego inflado. Tsc tsc! Seu caso é arrogância crônica, dessas que os médicos jogam a toalha e decretam morte iminente.

Meu bem, é uma doença querer-te bem.

Somos 70% água. Exceto eu, que sou toda mágoa.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Confissões Matinais

Para ler ao som de Suspicious Minds.




Acordei atrasada outra vez. Pulei da cama arrancando a roupa e corri para o banho. Não havia tempo para o café, mas eu sabia que seria atormentada por horas de mau humor se não bebesse um gole do meu elixir.

Coloquei Elvis para tocar enquanto penteava o cabelo e aguardava a água ferver. (Espero que minha mãe não leia isso. Ela odiaria saber que escovo o cabelo no meio da cozinha.)

Elvis cantava, a água fervia e eu fazia um rabo de cavalo quando me peguei pensando em você. Sei lá porque caralho de razão, já que a música não tinha nada a ver com a gente.

Cheguei a procurar um chip sob a pele. O que foi que você fez comigo para passear assim pela minha cabeça?

A gente tem tudo a ver e é justamente por isso que eu não quero te ver nunca mais. Quietinho, Elvis! Deus me livre da sua voz me fazendo pensar - de novo - nesse cara.

Eu conversava com o Elvis, a água borbulhava, a escova repousava e o tempo continuava passando. Esqueci do café e do relógio enquanto desenhava sua imagem mentalmente e procurava me convencer dos seus defeitos. Um trabalhão, diga-se de passagem!

Enquanto a maioria das minhas amigas sempre quis um príncipe encantado, meu sonho de consumo era a casa da Barbie. Tira seu cavalinho branco da chuva, benzinho! Não é porque lembrei de você enquanto o filho da puta do Elvis cantava que vou me render aos seus encantos.

We're caught in a trap, meu caro.



segunda-feira, 13 de agosto de 2012

(A)Mar




Vai tocar Chico e vocês jantarão à luz de velas. Quando se der conta, estarão trocando sms romântico numa segunda-feira à tarde, durante o expediente.
Ele escreverá “ancioso” e você ignorará o erro de grafia, afinal, o abraço dele é melhor que a gramática.
Antes que possam prever, apresentarão amigos e talvez formem uma turma única. Talvez não.
Você ouvirá Fagner, Marron 5, Florence, Damien Rice, Zeca Baleiro e É O Tchan pensando nele. Ele acessará o RedTube pensando em... Outra, mas homem é assim mesmo. (É?)
Ele terá ciúme da sua minissaia, do seu melhor amigo, do Twitter e do seu ex. Você terá ciúme até da sombra dele, mas tentará disfarçar cantando kuduro mentalmente.
Vocês brigarão algumas vezes por bobagens que não valem um parágrafo. A reconciliação será tórrida e valerá cada cara emburrada.
Acostume-se. Nunca será um mar de rosas. Mar é feito d’água salgada, minha filha.
(E desde quando uma flor é mais bonita que a vista da praia?)

terça-feira, 7 de agosto de 2012

The End



Não sei gostar com calma. Aliás, mal sei o que é calma. Isso realmente existe?
Quer calma, pede um copo d'água, um chá de camomila, um comprimido. Eu sou o contrário.
Não consigo aguardar o miojo ficar pronto, que dirá esperar que as coisas aconteçam. Eu não. Sou do tipo que não faz tipo. Corro atrás, pego pelo braço, puxo, mordo. Canso, mas também faço cansar.
Não que me orgulhe disso. Ah! Como dá trabalho!
Às vezes fico exausta apenas por ser eu. Porque ser eu é uma tarefa árdua, cansativa, sem folga e com pouca remuneração.
Não sei gostar com calma. Não me peça calma, meu bem.
Agora que sabes como a banda toca, se toca. Cai fora!


Para ler ao som de No Light, No Light.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Jornada

Chamaste minha literatura de vagabunda
e isso doeu em cada um dos meus duzentos e seis ossos.


Estou no meio do caminho e as pernas pedem descanso. Os pés doem, sujos de terra, exaustos.
Caminhei tanto depois que nos conhecemos. Mal vejo a menina torta que eu era naquele dia quente de fevereiro.
Era mais gostoso quando você andava comigo. Mesmo à frente, você me estimulava a dar passadas mais largas, aumentando o ritmo para que chegássemos mais cedo.
De repente pisquei os olhos e cadê você?
Estou no meio do caminho e daqui nem dá pra ver o meu destino. Parecia mais simples quando éramos dois rumo ao desconhecido.
Andei tanto e já não há nenhum estímulo. Continuo porque estou no meio do caminho e não dá para parar aqui, nessa maldita estrada de terra onde não passa ninguém.
Será que você se escondeu para me observar ou cansou da minha lentidão e foi na frente? Eu nunca te deixaria para trás, amor. Vem me buscar?
A cada cem passos eu paro e olho ao redor. Não tem cabimento voltar, mas dói tanto seguir em frente. Dói tanto. Doem as pernas, os pés, o âmago, o peito. Doeria meu coração se eu ficasse à vontade para escrever como os velhos poetas.
A cada quilômetro vencido eu penso em você. Ao menos não o vi indo embora. É provável que tentasse alcançá-lo e sabemos que eu jamais conseguiria.
Lembra quando começamos essa jornada? Eu era apenas uma menina mal acostumada e você corria para que eu o alcançasse. Só alcançava porque você deixava.
Sem você a estrada parece mais esburacada, mais tortuosa, mais difícil. Será que a gente se encontra lá na frente?


Para ler ao som de Damien Rice - Delicate.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Bilhete #510





sábado, 21 de julho de 2012

Primeira



A primeira vez que nos vimos uma harpa tocou. Não foram sinos, como sentenciam os escritores românticos. Foram harpas!
Uma estrela cadente cortou o céu, embora fosse dia. Em dez segundos eu disse para mim mesma: Eu o amo. Esse é o cara que vai mastigar a minha alma. Estou fodida. Eu o amo!
Uma menina de 15 anos gritava dentro do meu peito, correndo entre as artérias com uma rede de caçar borboletas. As borboletas tinham pernas e também corriam, e eu sentia que aqui dentro era um quadro do Dali ou filme do Tim Burton porque agora havia você.
A menina, as borboletas, meu sangue... Tudo corria na sua direção, embora eu estivesse parada.
Botões de rosa brotavam das minhas mãos e eu as colocava para trás numa tentativa desesperada de não deixar os espinhos à mostra.
Tudo isso num piscar de olhos, na primeira vez que nos vimos.
O som das pessoas em volta ficou baixinho e eu só ouvia a harpa.
Meu coração não batia freneticamente como era de se esperar. Não. Ele parou. Ficou paradinho enquanto menina e borboletas buscavam desenfreadamente por você.
Aí você se aproximou, beijou minha bochecha e fomos tomar um café. E eu nunca te contei que nos dez primeiros segundos que te vi, eu já era mais sua do que jamais fui minha.