Chamaste minha literatura de vagabunda
e isso doeu em cada um dos meus duzentos e seis ossos.
Estou no meio do caminho e as pernas pedem descanso. Os pés doem, sujos de terra, exaustos.
Caminhei tanto depois que nos conhecemos. Mal vejo a menina torta que eu era naquele dia quente de fevereiro.
Era mais gostoso quando você andava comigo. Mesmo à frente, você me estimulava a dar passadas mais largas, aumentando o ritmo para que chegássemos mais cedo.
De repente pisquei os olhos e cadê você?
Estou no meio do caminho e daqui nem dá pra ver o meu destino. Parecia mais simples quando éramos dois rumo ao desconhecido.
Andei tanto e já não há nenhum estímulo. Continuo porque estou no meio do caminho e não dá para parar aqui, nessa maldita estrada de terra onde não passa ninguém.
Será que você se escondeu para me observar ou cansou da minha lentidão e foi na frente? Eu nunca te deixaria para trás, amor. Vem me buscar?
A cada cem passos eu paro e olho ao redor. Não tem cabimento voltar, mas dói tanto seguir em frente. Dói tanto. Doem as pernas, os pés, o âmago, o peito. Doeria meu coração se eu ficasse à vontade para escrever como os velhos poetas.
A cada quilômetro vencido eu penso em você. Ao menos não o vi indo embora. É provável que tentasse alcançá-lo e sabemos que eu jamais conseguiria.
Lembra quando começamos essa jornada? Eu era apenas uma menina mal acostumada e você corria para que eu o alcançasse. Só alcançava porque você deixava.
Sem você a estrada parece mais esburacada, mais tortuosa, mais difícil. Será que a gente se encontra lá na frente?
Para ler ao som de Damien Rice - Delicate.
4 comentários:
Uia, sempre me encontro me perdendo. Não é poesia, é fato mesmo. Quando abro os olhos, tô perdida, todos os caminhos parecem sem-graça quando estou sozinha. Aí, de repente, presto atenção em alguma coisa e ele aparece. Acho que ele veio pra me resgatar, mas na verdade ele nem percebeu que eu tinha me perdido.
Muito bom me encontrar em palavras alheias!
Amor tal qual uma criança que corre, se esconde e depois reaparece com aquela gargalhada linda brotando das víceras. Numa hiperatividade louca, que te faz ir da felicidade, ao medo, a tristeza em fração de segundos. Que te deixa exausta, de cuidar, de ir atrás, de brigar e colocar no colo... Mas que recompensa. Não há alívio maior que colocar a cabeça no travesseiro e saber que o tal amor está ali. Isso mesmo, está ali. Não são necessários cem passos, para que olhe ao redor. Na verdade, ele não foi na frente. Ele está brincando de esconde-esconde. E assim que encontra-lo, escutará o som de uma risada gostosa e o verá sair correndo novamente... para mais uma brincadeira. E esse corre-corre, essa exaustão, hão de valer a pena. Por que o amor, sempre vale a pena.
Amor é quando a pessoa muda de direção no meio do nosso caminho e nos espera lá na frente...
Lindo texto!
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