quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Excesso



Existem três tipos de pessoas: Os normais, que sentem, mas não sangram; os excessivos, cujo bater de asas de borboleta no jardim do vizinho lhes açoita e finalmente, os insensíveis.

O primeiro grupo, maior e mais comum, é formado pela maioria dos meus amigos, por meu irmão, meu pai, meu namorado... É constituído por pessoas que se sensibilizam diante de um roteiro dramático, que choram a morte de um ente querido, dizem eu te amo e eventualmente ficam tristes.

O segundo, dos excessivos, é onde me encontro. Não queira fazer parte dele, meu bem. Devo tê-lo herdado de minha mãe e o que posso dizer é que é feito de gente que dói. Doem as dores próprias e as alheias. Doem as injustiças, as notícias de telejornal, o divórcio da madrinha, a doença do avô. Dói além da conta e para extravasar, a gente escreve, pinta, borda, planta bananeira... E mesmo assim, dói. Dói amar e não amar, dói sorrir, dói chorar, dói até quando não está doendo porque a gente se sente meio morto. Mas óh, não se engane. Também não quero dizer que sejamos infelizes. Para os excessivos, a felicidade vem absurda – como vem todo o resto. O problema é que tudo é muito, todo sentir vem mal dosado, em proporções cavalares, e aí... Dói. Só quem é, sabe.

Finalmente, temos o terceiro grupo, os insensíveis. Não raramente os confundimos com os excessivos porque de tanto não sentir, eles aprendem a forjar. Forjam alma, lágrimas, zelo, prazer... Com esses sim, há de se ter cuidado.

Invejo pessoas normais, que sentem na medida. Me benzo contra pessoas insensíveis, que devoram o sentimento alheio. E excessiva, sigo doendo.



Para ler ao som de It Can't Rain All The Time.

15 comentários:

Espelho Meu disse...

Costumo dizer que vivo entre o paradoxo do verbo sentir: quando eu não sinto, sinto muito!
Inexplicável como esse texto me serviu, assim, justinho. Te admiro, tanto...

Mola disse...

Sentir muito é sua benção e sua maldição.



Sou encantado por você, meu doce amor.

Jéรรy disse...

Depois de "Curta Cotidiano #4", "Excesso" foi o texto que mais me traduziu até agora aqui.

Fazer parte do segundo grupo dói mesmo e não é pouco. Já quis várias vezes pedir demissão, mas não consegui... Se o fizesse estaria deixando de viver intensamente cada pedacinho de mim.
Preferi continuar sendo de carne, osso e muito coração.

p.s: amei a música. Obrigada por compartilhar.

Ludmila Melgaço disse...

Nossa, não consigo não me encontrar em cada linha.
Sigo doendo, fazer o que, né?

Gislãne Gonçalves disse...

Olá,
O blog “Vê se ri um pouco” entrará de recesso ate dia 31 de março, mas vc terá a oportunidade de publicar um texto SEU no meu blog, passa lá e dê uma olhada na última postagem, intitulada “Participem!!!”, pois lá estão as explicações de como ter o seu texto no Vê se ri um pouco, tanto no blog quanto no Face!

Beijos
Até mais

juliana disse...

Lindo Flá. Sinto em excesso. Mas a medicina me ajudou a ponderar as liberdades e escolhas pessoais. O intolerável pode ser bem tolerável quando arraigado nas profundezas do ser. E quantas vezes, na tentativa de ajudar, me vi arrancando muletas que apoiavam toda uma vida.E se eu estiver errada, valeu a tentativa de não me esvair em lágrimas ao lado da formiguinha. Adoro suas postagens. Grande abraço!

Nathália von Arcosy disse...

Excessivos, uni-vos! Uni-vos porque também dói demais sentir-se sozinho com todas essas dores, alegrias e angústias. Sigamos doendo juntas que a dor talvez sufoque menos se tivermos alguém para carregá-la conosco.

Zucco disse...

Nossa, queria ter eu escrito um texto assim. Perfeito! Maravilhoso. Bom mesmo. Direto, profundo e tocante. Parabéns! Vou divulgar.

Almeida José disse...

Oi, tudo bom?

É a primeira vez que eu passo pelo teu blog e admito que gostei bastante. É realmente legal ver um blog que está firme e forte desde 2010. São raros.

Curti o texto, você conseguiu passar a ideia ao mesmo tempo em que expressou o que sente, ficou bacana.Respondendo a uma pergunta que não me foi feita, sou um "normal" morrendo de medo de ficar "insensível"... o que eu devo fazer?

Abraço

Almeida José
www.diarioaustral.wordpress.com

Loridane Melchior disse...

Moça linda,

Como gostei desse texto. Sentir demais é também minha maldição/salvação.

Aprender dosar um pouco essas águas furiosas por dentro é preciso e tão complicado. =/

Você está certíssima,que os insensíveis fiquem longe.

E que possamos encontrar no caminho pessoas capazes de nos diluir um tantinho.

Bjos

Anônimo disse...

Senti esse texto excessivamente, isso é bom ou ruim? rs
Nova por aqui e daqui pra frente constante. Parabéns pelo texto e a impulsividade de escrevê-lo!

@mother_fuckerz

Augusto Mozine disse...

Adorei o texto! Só, jamais, invejaria os normais... Não vale a pena...

Versos que eu fiz e ainda espero respota disse...

Um brinde aos excessivos!!

Mtooo Boomm!

http://www.luismacedo.com/

Anônimo disse...

Como você, sou demasia. Isso dói, mas faz a gente ver as coisas com uma poesia também gigante. Há lá suas vantagens!
Beijos

Anônimo disse...

Só quem sente excessivamente, entende! Gostaria de ser do grupo dos "normais"... enfim...

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