Tenho em mim uma agonia insidiosa e malandra. Quando me pega distraída, fica me soprando aos ouvidos frases que incitam pressa. ‘Vai, Flávia. Liga pra ele outra vez’; ‘Anda, pergunta pra chefe se o trabalho ficou bom’; ‘Briga com seus amigos por não terem te procurado no fim de semana’...
Diante dessa agonia libidinosamente nociva, me perco feito criança em labirinto. Eu ligo, cobro, corro, choro, brigo. Tudo antes da segunda página. Acaba que as outras pessoas mal desenharam o primeiro parágrafo e eu já terminei o texto.
Intensidade é pouco. Vou engolindo as entrelinhas, os arremates floreados, as frases lustradas.
Meus amores são rascunhos escritos em papel de fazer origami. Começam dizendo como foi bom conhecê-lo, e terminam na dor de cotovelo de um final mal resolvido.
Pois é... Tudo culpa dessa agonia penosa. Ela tem desejos alvoroçados, e uma pressa enorme de ser feliz...
Fica recitando versinhos e me cobrando amar. Cantarola músicas doces e me pergunta quando é que a felicidade vem.
Eu não sei. Olha aqui, sua agonia filha da puta, eu não sei!
E já cansei de procurar debaixo de cada pedra, em cada fresta, em todos os vãos. Eu não procuro mais!
E aí encaro a agonia, abro bem os olhos e digo com todas as letras: ‘Agora quero paz. A felicidade que me procure quando estiver pronta pra mim!’.
Vá eu querer entender a cabeça alheia (só agora começo a entender a minha, aos trancos e barrancos).
A velha história das borboletas de Quintana é tão real quanto a inconstância que nos cerca, mesmo que ninguém admita.
Não vou prometer não ligar. Não vou jurar que ‘já foi’, nem esnobar, nem fingir que não me importo. Sou muito mais que isso... Sim! Eu me importo, dane-se.
Hoje vou tentar deixar de lado o tsunami de descontentamento que me segue feito quimera...
Decidi que é domingo. Meu domingo particular... As preocupações vão ficar pra depois, feito vendedor batendo na porta em pleno fim de semana pela manhã... A gente se revira na cama, e simplesmente ignora... Hoje é domingo!
Já li todos os livros da estante, a tv não tem nada que valha minha atenção, e por mais que revire a agenda, ninguém merece um telefonema ou convite pra passeio no parque. Tudo bem, isso é típico dos domingos. Dias assim não são especiais nem são tristes. São preguiçosamente vazios.
A gente vai empurrando os problemas com a barriga... Deixa pra amanhã!
Aliás, já chega de divagar... Hoje é domingo. Vou procurar desenho nas nuvens ou dormir no sofá... Amanhã decido se me curo ou enlouqueço.
2 comentários:
Viver é uma arte..saber viver é ainda maior! Gostei de suas palavras, parabéns! Estarei sempre por aqui. bjs.
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Alimente os devaneios de uma Mariazinha. Comente.