Chamaste minha literatura de vagabunda
e isso doeu em cada um dos meus duzentos e seis ossos.
Estou no meio do caminho e as pernas pedem descanso. Os pés doem, sujos de terra, exaustos.
Caminhei tanto depois que nos conhecemos. Mal vejo a menina torta que eu era naquele dia quente de fevereiro.
Era mais gostoso quando você andava comigo. Mesmo à frente, você me estimulava a dar passadas mais largas, aumentando o ritmo para que chegássemos mais cedo.
De repente pisquei os olhos e cadê você?
Estou no meio do caminho e daqui nem dá pra ver o meu destino. Parecia mais simples quando éramos dois rumo ao desconhecido.
Andei tanto e já não há nenhum estímulo. Continuo porque estou no meio do caminho e não dá para parar aqui, nessa maldita estrada de terra onde não passa ninguém.
Será que você se escondeu para me observar ou cansou da minha lentidão e foi na frente? Eu nunca te deixaria para trás, amor. Vem me buscar?
A cada cem passos eu paro e olho ao redor. Não tem cabimento voltar, mas dói tanto seguir em frente. Dói tanto. Doem as pernas, os pés, o âmago, o peito. Doeria meu coração se eu ficasse à vontade para escrever como os velhos poetas.
A cada quilômetro vencido eu penso em você. Ao menos não o vi indo embora. É provável que tentasse alcançá-lo e sabemos que eu jamais conseguiria.
Lembra quando começamos essa jornada? Eu era apenas uma menina mal acostumada e você corria para que eu o alcançasse. Só alcançava porque você deixava.
Sem você a estrada parece mais esburacada, mais tortuosa, mais difícil. Será que a gente se encontra lá na frente?
Para ler ao som de Damien Rice - Delicate.