Sentada no parque, pensando em nada. Tem algo mais difícil que pensar em nada?
Pela manhã fez frio só para que as pessoas saíssem agasalhadas e mais tarde (agora) o sol pudesse rir da cara delas.
O parque não é bonito. A grama pede para ser aparada e as plantas não dão flor. O parquinho é velho, o campo é de terra batida e falta sombra. No entanto, tem crianças rindo e imagino que o som seja igual ao das crianças que passeiam no Central Park.
Depois de um tempo pensando em nada, que às vezes pode ser tudo, fiquei observando um casal de velhos.
Ela de coque, com alguma dificuldade para andar. Ele grisalho, trajando bermuda. Que engraçado pode ser um velhinho de bermuda.
Embora ele não demonstre nenhum cansaço, acompanha o ritmo dela, sempre de mãos dadas.
Depois de uma volta e meia em torno do campo, sentam-se num banco (esse, com sombra). Ela ajeita o ralo cabelo dele, que murmura alguma coisa como fazem os meninos quando pedimos que se alinhem. Mesmo sentados, ficam de mãos dadas, observando o parque sem flores, em silêncio.
Imagino que tenham filhos, netos... Talvez até bisnetos. Imagino que tenham casado na igreja numa época em que isso era importante e que se não o fizeram por amor, acabaram por achá-lo no meio do caminho.
Devem morar perto do parque de campo de terra e quem sabe já o tenham visto florido n'outros tempos.
Não param o moço do sorvete, não comem algodão doce... Apenas olham, de mãos dadas.
Parecem pessoas simples, com muita história para contar.
Devem ter lá suas bodas de ouro em comum.
Ela deve ter tido mais de quatro filhos, que ele provavelmente trabalhou como louco para alimentar.
Imagino que houve uma época em que brigavam demais, as crianças davam trabalho, as finanças não iam bem. Não hoje... Hoje ela caminha com dificuldade, mas eles tem um ao outro e passeiam de mãos dadas. Ele usa bermuda, ela ri e ele comenta que o tênis também não lhe cai bem. Sempre de mãos dadas.
Ou vai ver que se odeiam, mas vão aguentando porque nessa idade, o que se há de fazer?
Prefiro a primeira opção.